Herdade do Rego |
Mais uma oportunidade gerada pela Grande Degustação de Vinhos Portugueses no Brasil 2013, dessa vez entrevistei Alison Luiz Gomes, produtora do Alentejo, responsável pela Azamor. Apesar de nosso contato ter sido virtual, achei contagiante a energia da Alison, confiram!
VV – Alison, conte-nos um pouco da história da Azamor? De onde vem à paixão pelo vinho?
Os vinhos Azamor são produzidos na Herdade do Rego no Alentejo, em Portugal, perto da cidade de Vila Viçosa, entre Borba e Elvas, numa das zonas mais altas da região, o que tem sido uma mais-valia enorme para a qualidade dos nossos vinhos.
A Herdade foi comprada em 1998 por mim e pelo meu marido Joaquim Luiz Gomes.
Aquisição lógica já que a herdade pertencia à família Luiz Gomes desde há muitos anos. A paixão pelo vinho existe desde sempre na nossa família e apaixonámo-nos imediatamente pelo sítio: a herdade tem muito por onde explorar com um olival grande e a possibilidade de ter cavalos, outra grande paixão nossa! Este sítio, perto da natureza, é ideal para relaxar e oferece paisagens diversas ao longo das estações e vistas soberbas.
A adega, concluída em Julho de 2007, é moderna e tem 4 salas de provas e uma capela familiar.
É de resto um sítio onde a nossa família, tenho 3 filhos, gosta de se reunir ao fim-de-semana ou durante as férias. Vivemos em Lisboa e vou à herdade todas as semanas um ou dois dias nos períodos de menos atividade e vivo lá a tempo inteiro nas outras alturas!
VV – Vi que também trabalham com cepas internacionais, francesas, porque elas se adaptam tão bem ao terroir do Alentejo?
O estudo do solo no início da atividade permitiu-nos identificar estas castas como as que melhor se adaptam ao nosso terroir. De momento temos castas Portuguesas como a Touriga Nacional, a Touriga Franca, Trincadeira e Alicante Bouschet e internacionais, Syrah, Merlot e Petit Verdot. Não procuramos rendimentos altíssimos na vinha para manter uma qualidade constante e notável.
Situadas a 350m de altitude, as vinhas foram plantadas em 2001 e 2002 por nós. A orientação da vinha é norte-sul e a densidade de plantação contribuí para uma superfície foliar exposta por ha que é 3 vezes superior à média nacional.
Os nossos solos são de argila bem drenados com uma rocha entre 1 a 2m de profundidade em função dos sítios o que confere qualidade aos nossos produtos.
Na região, os verões são muito quentes (+40ºC) e os invernos rigorosos (abaixo 0ºC). A precipitação média anual é de 450mm. Graças a uma aragem fresca de noite no verão, a temperatura baixa até aos 20-25ºC, o que é perfeito para a vinha e as castas que aí plantamos!
Temos um sistema de rega deficitária controlada que faz das nossas uvas um fruto pequeno e concentrado, contando com 30% de trans-evaporação. Na vindima, as nossas uvas são mais pequenas que a média, o que torna os aromas mais intensos, os taninos maduros e suaves: é esse o terroir dos vinhos Azamor.
É esta autenticidade e tipicidade aliadas ao savoir-faire moderno que fazem dos nossos vinhos o que são.
VV – Preciso admitir que sou fã da Petit Verdot, como é o Azamor Petit Verdot?
Podemos dizer que uma das características transversal a todos os Vinhos Azamor é a elegância, pelo menos é o que me esforço sempre atingir. O Alentejo é uma região muito quente e é fácil obter-se vinhos alcoólicos, com imensa intensidade em boca, verdadeiras "bombas", mas que depois é difícil repetir uma taça. Procuro sempre que os meus vinhos possam ser bebidos com ou sem comida, mesmo se em Portugal e penso no Brasil também, os vinhos sejam degustados durante as refeições.
Apesar de ser monocasta, o nosso Petit Verdot é complexo, frutado e com taninos suaves e um final de boca longo. Dizem dele que é um vinho ao estilo clássico Francês... mas bem alentejano e Português!
Para além do Petit Verdot, temos o nosso Azamor, o nosso Azamor Selected Vines e o Icon que apenas produzimos em anos excpecionais. 4 referências de vinhos tintos "apenas"!
VV – Como foi a safra 2012? E como está o ano de 2013?
A safra de 2012 foi excelente a nível de qualidade, com uma quantidade um pouco reduzida. Mais concentração, estou a gostar imenso da evolução dos vinhos e do que obtivemos dessa safra. Vai ser, sem dúvida, um grande ano para os nossos vinhos.
Para 2013, ainda é um pouco cedo para dizer. O verão demorou a chegar, o inverno foi longo e com mais chuva que o habitual. O crescimento, apesar de um pouco mais tardia esta a correr muito bem.
VV – Fale-nos também um pouco mais dos outros projetos da Herdade do Rego, como o Olival?
A herdade tem um total de 260 ha, 27 ha dos quais plantados com vinhas, 140 de olival e 30 de sobreiros e pinheiros. Os restantes são a "casa" dos nossos cavalos lusitanos! O olival é portanto uma parte importante da nossa atividade e também requer a minha presença na altura da apanha da azeitona. É um trabalho diferente mas a magia da natureza a operar também funciona com o olival, não é apenas na vinha!
As nossas castas de azeitona são: Galega de Évora, Azeiteira, Carascanha, Redondil, Arbiquina, Blanqueta, Picual. Produzem azeites distintos e de qualidade. Os solos são ricos em matéria orgânica e são arenosos. A propriedade é antiga (há 45 anos que metade da propriedade é dedicada à plantação de oliveiras) mas as azeitonas têm um aroma excelente. A apanha tem lugar entre Novembro e Janeiro, sendo que 75% é feita mecanicamente e 25% manualmente. Vendemos quase todas as nossas azeitonas porque ainda não temos lagar para produção de azeite, mas ficamos sempre com uma parte para o nosso consumo próprio e para oferecer aos nossos convidados!
VV – Mudando um pouco o foco da nossa conversa para Mercado. Quais os projetos para o Mercado Internacional? Para quantos países exportam?
A Azamor exporta 80% da sua produção total que são cerca de 80.000 garrafas por ano. Exportamos quase exclusivamente para a Europa, porque foi por aí que comecei a desenvolver o meu trabalho comercial: Reino Unido (sou Inglesa, portanto foi bastante natural para mim começar por este mercado), Alemanha, Luxemburgo, Suécia e Suíça.
A estrutura da empresa é muito pequena, sou eu que desenvolvo na totalidade o trabalho de exportação também e prefiro concentrar-me num ou dois mercados por ano, quando tenho que "abrir" novos mercados.
Este ano será o ano do Brasil para mim!
VV – Até que ponto a crise econômica que a Europa vive influencia nos projetos para o Mercado Internacional?
Claro que temos visto consequências da crise econômica no mundo inteiro e mais especificamente na Europa. Mas no meu caso, as minhas vendas e exportações têm crescido de uma forma constante, claro que também crescem mais devagar, mas continuam a crescer, é o que interessa.
Penso que as pessoas sejam mais cuidadosas ao escolher os seus vinhos e procuram uma relação preço/qualidade mais interessante para eles. Penso que os vinhos Azamor têm preços justos dentro das suas categorias. E principalmente são diferentes dos outros vinhos Alentejanos e Portugueses, pelo menos é o retorno que tenho quando estou em prova. São vinhos muito Portugueses e ao mesmo tempo muito modernos e elegantes. O Alentejo é uma das regiões das grandes empresas, o projeto Azamor é Boutique e quero mantê-lo assim! Os consumidores procuram autenticidade nos vinhos, e isso eu posso oferecer-lhes!
VV – Mais especificamente porque estar presente no Mercado Brasileiro?
O mercado Brasileiro sempre foi de grande interesse para mim, mas, como disse, ainda não tinha a oportunidade de me dedicar a ele. É um mercado importante para os vinhos Portugueses e para os vinhos do Alentejo mais especificamente e faz imenso sentido estar nesse mercado e dar a conhecer os meus vinhos aos consumidores Brasileiros. Acredito que os apreciadores Brasileiros saberão reconhecer o valor do produto que gostava de pôr no mercado. Estes mercados que são mais longínquos requerem um cuidado particular em manter relações frequentes com o importador e os clientes, isso eu sei e vou fazer!
VV – Misturando um pouco dos dois assuntos que tratamos até agora, de uma maneira geral o consumidor brasileiro é jovem no mundo do vinho, temos muito a aprender e conhecer, considerando esse nosso perfil, o que é mais atraente no Vinho Alentejano? E nos vossos vinhos?
Como disse, os nossos vinhos são modernos e feitos para serem apreciados por consumidores com muito ou pouco conhecimento. Penso que seja esse o segredo do seu sucesso em mercados tão competitivos como o Inglês e o Alemão por exemplo. A imagem também é arrojada, mas simples e elegante.
Daquilo que sei do consumidor brasileiro, apesar de ser jovem no mundo do vinho, sabe o que quer e as marcas de que gosta. Tenho a sorte, neste caso, de produzir vinhos da região do Alentejo que já têm alguma notoriedade aqui no Brasil. Espero que os vinhos e a imagem seduzam o consumidor brasileiro e as importadoras!
VV – Algumas curiosidades... sempre faço essa pergunta com o objetivo de despertar o lado enófilo do produtor, você conhece os vinhos e espumantes brasileiros? Se sim, qual ou quais? Foi uma experiência agradável?
Já ouvi muito falar nos espumantes brasileiros e sei que têm qualidade e que estão a ganhar cada vez mais reconhecimento internacional. Ainda não provei, mas esta viagem ao Brasil vai ser para mim a oportunidade de provar os espumantes da Cave Geisse, mas também os vinhos da Lídio Carraro que me foram referenciados.
VV – Por fim, sua adega particular deve ser repleta de vinhos Azamor, mas acredito que com todas as feiras e viagens que fazem, surgem muitas oportunidades de experimentar vinhos de todo o mundo. Algum vinho marcante? E na vossa adega tem alguma região fora de Portugal que detém um espaço especial?
É impossível escolher!
Estudei Marketing de Vinhos na UC Davis nos Estados Unidos e enologia na universidade Católica do Porto, portanto gosto muito dos vinhos Californianos e do Douro. Claro que os vinhos Franceses mais clássicos também fazem parte da minha lista de favoritos.